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Estante Pinhão

2020 o ano que toda a humanidade precisou parar e Rever. Rever a vida, rever planos, sonhos, metas, objetivos, valores e significados. Ressignificar, reinventar novos jeitos de pensar. Hora de desacelerar, observar, traçar novos caminhos, replanejar, palavras fundamentais para o design. Mais do que nunca percebemos que dentro e fora das casas, nós, profissionais da área, podemos ajudar. Notamos junto a tudo isso, o quanto é importante cuidar do próximo.


Para a idealização do Projeto Estante Pinhão, a palavra e o ato de rever foram fundamentais em todo o processo. Ao iniciar a pesquisa para a criação, o rever destacou-se primeiramente no formato do objeto, o móvel surgiu inspirado no Pinhão, semente da árvore Araucaria angustifolia, símbolo marcante da região Sul do Brasil e da cidade de Curitiba, onde resido. No Paraná, as araucárias eram tão abundantes que inclusive originaram o nome da capital. A palavra "curi" vem do tupi e significa pinheiro, por sua vez a palavra "tiba" significa muito, daí o nome Curitiba ou muitos pinheiros. O pinhão é uma semente comestível e pode ser muito mais que um item da gastronomia, ele pode inspirar o formato de objetos e artigos de decoração, e assim como o petit-pavé (técnica portuguesa de mosaicos com pedras de basalto e calcário, que ilustram muitas calçadas em nossa cidade) pode tornar o design local ainda mais valorizado e difundido nacional e mundialmente. A estante, criada para este projeto, é um móvel que enaltecerá o design regional, um artigo de baixíssimo custo de produção, altamente acessível e que também tende a despertar o interesse de órgãos governamentais e do poder público.


O segundo ponto pensado na concepção do projeto sobre o tema rever foi a composição do material. A responsabilidade de reaproveitamento e sustentabilidade é cada dia mais valorizada para que aos poucos possamos convencer a sociedade da importância e incorporação do consumo consciente. Assim, para a criação do Projeto Estante Pinhão, os materiais utilizados serão quase em sua totalidade reaproveitados. O móvel será criado em madeirites, usados em tapumes de construções, os quais serão prospectados juntamente a empreiteiras e construtoras que possam doar as peças não mais utilizadas, provenientes de obras já concluídas. Outro recurso material a ser usado no projeto serão pequenos pedaços de granito ou mármore, as sobras muitas vezes são descartadas por marmorarias, assim, também será realizado o pedido de doação destas quebras e elas servirão como peso para a estruturação e sustentação da estante. Desta maneira, os únicos gastos dispostos serão no transporte dos materiais recebidos de doação e na execução da mão de obra de marcenaria.



Ainda ao rever, surgiu a idealização do terceiro ponto: o impacto ocasionado pela pandemia de COVID-19 e o “novo normal”. Ao meu ver, não fazia sentido nesse ano, criar um objeto que não dialogasse e pudesse colaborar de alguma forma com o cenário atual. Por isso, o Projeto da Estante Pinhão foi pensado em dois viés, o primeiro deles de utilização residencial, no qual o móvel adapta-se perfeitamente a um hall de entrada, auxiliando na ressignificação e restruturação do ambiente da casa que mais precisou ser revisto e repensado. Além de seu design decorativo, inovador e marcante, a estante acomoda em seus espaços os itens fundamentais de higiene para o combate ao vírus, ficam ali ao lado de algumas decorações, o frasco de álcool em gel e o desinfetante. O segundo viés refere-se o uso da estante em espaços públicos e de uso comum, como terminais de ônibus, estações tubo (presentes na cidade de Curitiba), prédios públicos como escolas, museus, secretarias, prefeituras, dentre outros. Nestes locais, o móvel pode acomodar cartilhas informativas, produtos de higienização e até mesmo máscaras e luvas de distribuição para população que os frequenta.



O quarto ponto, mas não menos importante sobre o tema rever, foi a utilização futura do Projeto Estante Pinhão e sua relação com o espaço. Sua utilização posterior, quando todo esse momento passar, possivelmente será revista, e aí destaque-se a versatilidade do projeto. Dentro de casa, no hall, esse móvel não perderá sua utilidade, continuará proporcionando modernidade e funcionalidade ao ambiente. Porém, há uma grande tendência da estante perder a sua função primordial com o fim da pandemia em locais públicos, é quando sua utilização ganhará um novo significado e poderá transformar-se uma biblioteca coletiva e compartilhada, por exemplo; este espaço poderá ser alimentado com livros e gibis; a população poderá depositar e trocar peças expostas e esta iniciativa contribuirá para despertar o interesse da população e o incentivo à leitura. Além do mais, a estante será móvel de grande resistência e trará beleza estética para espaços públicos, é um meio de intervenção urbana entre o design e a arquitetura dos espaços.

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